sexta-feira, 9 de julho de 2010

Saramago e Debord: reflexões por William Kitzinger

A minha proposta de trabalho é estabelecer uma interlocução entre uma entrevista de Jose Saramago que é encontrada nos Extras do filme Janela da Alma com o texto de Guy Debord, em a Sociedade do Espetáculo.
Os pensadores escolhidos abordam questões socias partindo de premissas materialistas. A questão econômica acaba sendo central em suas análises. Podemos categoriza-los como realistas, seguindo a diferenciação citada por Neil Gabler entre realistas e pós-realistas. A cisão entre a realidade e a representação imagética é destaque em todo o texto de Debord e acaba sendo ilustrada por Saramago.

O escritor português destaca que há um comportamento universal (geral) que é seguido pela maioria é transgredido por uns poucos que mantem uma atitude crítica perante o que seria a realidade.

Debord considera que por conta de “toda a vida das sociedades nas quais reinam as modernas condições de produção se apresenta como uma imensa acumulação de espetáculos. Tudo que era vivido diretamente tornou-se uma representação”.
Saramago destaca que coisas novas ou modernas não são necessariamente boas.

Sem querer defender o antigo, somente deixando claro de que não há razão para se acreditar que as coisas que são feitas no momento presente são as melhores e as únicas que poderiam ser imaginadas e aplicadas.

Em relação a essa citação faço a correlação com o teórico francês quando este afirma que “no mundo realmente invertido, a verdade é um momento do que é falso”. E vai além quando se refere ao espetáculo como “o sentido da prática total de uma formação econômico-social, o seu emprego do tempo. É o momento histórico que nos contém”.

Na interpretação de Saramago, haveria muitas razões para que ele interpretasse que “nós tomamos por um caminho errado”. Um dos problemas fundamentais para ele seria o fato da população estar semi-consciente dos problemas que a cerca e de que ela permaneça inerte. Uma tarefa emergencial seria uma mudança que só poderia ser feita com coesão social para que todos empurrassem a máquina que nos pressiona e nos aliena.

Para Debord, estaríamos todos inertes e entretidos com a observação dos nossos próprios espetáculos. A tal máquina sugerida por Saramago não geraria outra coisa senão um paraíso ilusório. O distanciamento entre a realidade e o universo da representação que nos envolve também nos afasta das possibilidades de enxergar o real. Se todos estamos cegos para a realidade e nos alienamos em “favor do objeto contemplado”, entregamos nossa possibilidade de mudança. O sistema maquínico e econômico que nos aprisiona isola multidões cada vez mais solitárias no intuito de proletarizar o mundo. Se somos expectadores, o que nos liga é um processo aparentemente irreversível que nos atrai a um centro comum para nos mantem isolados uns dos outros e todos de uma eventual transgressão.

Bibliografia:

Janela da Alma (Brasi,2002,73 mins)
Ficha Técnica: Título Original: Janela da Alma - Gênero: Documentário - Tempo de Duração: 73 minutos - Ano de Lançamento (Brasil): 2002 - Estúdio: Ravina Filmes - Distribuição: Copacabana Filmes - Direção: João Jardim e Walter Carvalho - Roteiro: João Jardim - Produção: Flávio R. Tambellini - Música: José Miguel Wisnick - Fotografia: Walter Carvalho - Edição: Karen Harley e João Jardim.

DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997

Nenhum comentário: