sábado, 10 de julho de 2010

Os Musicais e a Espetaculização por Daniela Mazur

A grande maioria das pessoas que não gostam e não aceitam os filmes (os peças teatrais) musicais têm uma mesma opinião: "Como uma pessoa normal no seu cotidiano, de uma hora para a outra, resolve começar a cantar e dançar?" Eles acreditam que não é natural algo como isso acontecer, não é natural ver pessoas cantando pelas ruas com meia dúzia de bailarinos vindo atrás. Sem dúvidas nesse ponto eu concordo, não é normal ver uma cena de um musical acontecendo de repente no meio da rua. Porém em não ser natural do ser humano fazer da vida um espetáculo, disso eu discordo.



Neal Gabler, no seu texto “Vida, o filme – Como o entretenimento conquistou a realidade”, cita logo no início que “as pessoas se deram conta do poder e do prazer da apresentação pessoal” e também cita Evreinoff quando diz que “toda sua vida é uma sucessão de 'espetáculos'”. Com essas citações percebemos que a espetaculização da vida e do cotidiano fazem parte das pessoas, então atuar, cantar, dançar são sim naturais, fazem parte do ser humano. Quem nunca começou a cantar uma música que demonstrasse o que estava sentindo na hora? Quem nunca quis sair dançando pela rua quando recebeu uma notícia ótima? Quem não reclama que a vida deveria ter trilha sonora? É, isso é instintivo. Nós dizemos que musical não é natural porque a maioria dos ambientes não são propícios para isso, mas AH se fosse!, quem iria achar melhor se expressar de maneira diferente? As pessoas têm essa vontade natural de se parecerem com artistas famosos, têm gosto pelo espetáculo, querem ser vistas, querem fugir do anonimato, olham para situações da vida como se fossem um palco no qual pudessem mostrar o que elas são e têm, para esse todo não seria nada anormal viver a vida como um musical. E quando digo “todo” não peco, cada ser humano têm a tendência e a vontade de ser parte do show. Desde a garota querendo mostrar seus dotes mentais em frente a família até o garoto que aprende a tocar violão para atrair garotas; desde a menina que pega as roupas e maquiagem da mãe para se parecer com as mulheres dos filmes até a adolescente que vomita toda a janta, porque tem medo de engordar e não conseguir encaixar no padrão de corpo que as modelos têm, todos esses querem ser charmosos, querem ser amados. Todos querem ser vistos. Faz parte da vida. Todos querem entreter, todos querem ser entretidos, todos querem ser dignos ser arte.



“Todo mundo quer uma chance para brilhar”, essa é uma das frases tema do seriado de comédia mais bem sucedido no ano de 2009 e continua um grande sucesso, que é o “Glee”. Seu grande diferencial, que o levou a ter tantos fãs em várias partes do mundo e ter sido indicado e recebido tantos prêmios, é o musical. Se trata de um grupo de Coral que se utiliza do seu canto e dança para serem melhor vistos pelo resto das pessoas e para externarem seus sentimentos. O espetáculo os unia, os igualava, os livravam das restrições impostas. O palco é de todos e para todos. Eles querem o espetáculo. E isso é musical, é falar através da arte. O sucesso dessa série e a ligação que os telespectadores desta se sentem remetidos, só comprova o quanto o ser-show é interessante para as pessoas. Todos querem o prazer de fazer parte disso.



Então como dizer que filmes musicais são mentirosos se eles demonstram o que queremos? O palco, as luzes, a fama, ser amado, ser aclamado, ser conhecido, ser grande. Não é mentira; é espetáculo, é grandeza e ainda é o primitivo, por demonstrar o que todos realmente querem: o show. O show de ser alguém. O show de mostrar o mundo quem você é. É o show do ser eu.

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