sábado, 10 de julho de 2010

Analisando a cultura das telenovelas no Brasil por João Pedro Martins



Você reconhece alguma (ou muitas) das imagens mostradas? Tudo isso te soa familiar? Se você respondeu que sim, você faz parte do gigantesco grupo de brasileiros popularmente conhecidos como “noveleiros”. Apesar do recorte das imagens apresentadas no vídeo ser de cunho bem atual, o processo de como a telenovela se estabeleceu por aqui antecede os citados anos 2000. Para desenvolver essa análise e extrair algumas de suas influências, dividirei meu discurso em duas partes.

Primeiramente, é preciso que esclareçamos alguns pontos de sua linguagem. A telenovela apresenta uma linguagem baseada no melodrama. Explicando: ela se utiliza de métodos e efeitos que são absorvidos e compreendidos, por quem assiste, de maneira fácil. Você poderia assistir poucos episódios dentro de uma trama de meses de duração e, mesmo assim, saber com convicção quem era o herói, o anti-herói e etc. Tudo é previamente pensado para que o telespectador não precise pensar. Devemos lembrar também que a telenovela é um fragmento de um veículo maior: a Televisão. Ou seja, um meio de comunicação em massa. Logo, esse espetáculo sob os aspectos de um veículo massivo – o que, para Guy Debord, seria sua “manifestação superficial mais esmagadora” – acaba dando a impressão de invadir a sociedade como simples instrumentação. Porém, tal instrumentação nada tem de neutra. Ela convém ao “automovimento total da sociedade”. A mensagem, idéia, ou conceito que é transmitido, na maioria das vezes de forma sutil, é proveniente de um pensamento que busca induzir as pessoas a se sentirem de tal forma, gostarem de tal coisa, consumirem tal produto e etc.

Seguindo com o raciocínio, somos levados ao que, para mim, seria o próximo ponto: como isso influencia de fato em quem assiste? É claro que, com a real dimensão que as telenovelas alcançaram dentro da vida de cada brasileiro, contabilizar e descrever todos os tipos dessas influências seria impossível. Com isso, analisemos algumas. O principal aspecto que se percebe das telenovelas é de uma reflexão ilusória do que seria a vida perfeita. Isto é, o Rio de Janeiro reduzido ao bairro do Leblon nas novelas de Manoel Carlos e/ou as cenas do cotidiano, que mais parecem um comercial de margarina, por exemplo. Ao assistir, o telespectador – que acaba comprando tal conceito de felicidade – acredita que só será realmente feliz quando morar em uma daquelas coberturas de frente para o mar, ou quando acordar com o semblante lindo, cabelos arrumados e um café da manhã farto servido por um empregado, e etc. “Etc” mesmo. Esse telespectador precisava de alguma forma se igualar àquilo que vinha sendo assistido. Como muito bem citado por Neal Gabler: “a aura de tal celebridade penetraria no consumidor que usasse o produto indicado, colocando-o assim, ao menos em imaginação, do outro lado do vidro”. Além disso, o fato de você simplesmente repetir algum tipo de comportamento retratado já diz muito sobre quem você é. Ou aparenta ser. O “parecer” se sobrepõe ao unicamente “ter”.

A polemicidade deste tema é indiscutível. No sistema de conceitos atualmente vigente em nossa sociedade, é necessário que reflitamos sobre o que está oculto por trás desses objetos midiáticos. Para finalizar, deixarei mais uma citação de Debord que sintetiza perfeitamente o que vinha sendo dito: “O espetáculo se apresenta como uma enorme positividade, indiscutível e inacessível”.

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