sábado, 10 de julho de 2010

Editoras e parcerias por Josué de Oliveira Mello

A Web 2.0 marcou o início de uma nova fase no mundo da internet, balizada não mais pelo modelo da “venda de coisas”, mas no pressuposto de que a participação do usuário deveria ser mais ativa nos processos desenvolvidos on-line. Nesse post falarei brevemente sobre a relação que certas editoras vem mantendo com os leitores de seus livros através da internet, dando enfoque a diversas ações que cujo palco são os blogs e as redes sociais.

Nota-se hoje uma facilidade quase absurda de se criar conteúdo, desde que se tenha acesso e se domine certos dispositivos. A noção de conteúdo, nesse sentido, deve ser compreendida como extremamente ampla: qualquer veiculação de dados, informações, opiniões, enfim, objetos que teoricamente despertariam o interesse de outros pode ser abarcada pelo termo. A explosão dos blogs fluiu em direções que se referem a grupos de interesses, como cinema, televisão, literatura, quadrinhos, etc., de modo que o conteúdo criado pelos blogueiros tivesse como destinatários usuários da Web que compartilhassem desses interesses. Os “blogs literários” que se proliferaram no Brasil nos últimos dois anos seguem essa lógica, e não tardou para que chamassem a atenção das grandes editoras.

A título de exemplo, cito aqui alguns: Romances Policiais, Alelasorciere, Livros & Bate Papo (in memorian), Menina da Bahia. O número regular e alto de acessos diários conferiu a esses blogs a oportunidade de realizar diversos sorteios em parceria com grupos editoriais consolidados, que perceberam o potencial dessa nova mídia.

Nessa nova abordagem – que se encontra mais do que em voga –, não está mais somente nas mãos de empresas especializadas fazer a divulgação do produto: os sorteios já funcionam nesse sentido; mas não só eles, como também outra espécie de conteúdo que se tornou bastante comum nessa “blogosfera literária”, as resenhas. Muitos desses blogs surgiram com esse simples intuito, expor opiniões sobre determinadas obras; como o público passou a dar mostras de aprovar o conteúdo – e mais, de ser influenciada por ele –, certas editoras passaram a enviar exemplares gratuitamente para serem resenhados por blogueiros específicos. Havendo ou não intenção, tais resenhas funcionam como propaganda – positiva ou negativa, dependendo da resenha.

O que se nota nesse circuito é um jogo de interesses em comum. O das editoras é extremamente claro: como empresas, desejam vender seus produtos e obter lucro; o dos blogs (unindo-se aqui tanto desenvolvedores quanto usuários dos mesmos) é ter acesso a um (ou mais) tipo(s) particular(es) de obra(s) literária(s). O que se tem no fim das contas é a geração de mais e mais conteúdo, baseado numa troca constante entre empresa e consumidores.

As redes sociais também são uma arena interessante nesse contexto. No ano passado, como parte da campanha de divulgação do último volume da bem sucedida Trilogia Millennium, de autoria do sueco Stieg Larsson, a editora Cia. das Letras criou no Orkut e no Twitter um perfil que pertenceria a uma das protagonistas da série, a hacker Lisbeth Salander. Através dele, os fãs da série poderiam se comunicar com a heroína, e mais: alguns tiveram o privilégio de receber, antes do lançamento, o terceiro volume da série, “A Rainha dos Castelos do Ar”. Não é nenhuma surpresa que boa parte desses felizardos sejam donos de blogs literários com volume alto de acessos...

De todo modo, a estratégia parece ter funcionado, pois continua em uso. O General Garber, personagem de romances do inglês Lee Child, lançados pela Bertrand Brasil, também tem contas no Orkut, Twitter e Facebook, o que fez com que diversos fãs dos livros se tornassem “amigos” do personagem e participassem das promoções promovidas por ele.

O Twitter de forma especial merece certo destaque, pois há nele a possibilidade de respostas quase instantâneas, seja na divulgação de capas de livros, promoções em livrarias virtuais, lançamentos e mesmo eventos fora do mundo virtual; as editoras podem obter um num espaço curto de tempo um retorno razoável quanto a seus produtos. Novamente se tem um horizonte de troca, pois também os leitores têm um acesso mais direto àqueles que podem lhes informar sobre lançamentos que são de seu interesse.

Apesar das vantagens para todos os lados, ainda ocorrem falhas nesse processo. Não é raro que certos pedidos de informação sejam sumariamente ignorados pelos grupos editoriais, seja através das mídias sociais ou a tradicional ferramenta de correio eletrônico, definitivamente ou pelo período que lhes interessa. Motivos para isso são pouco claros. Novamente, cito o exemplo do Romances Policiais, cujo dono, Thiago Carvalho, a quem conheço, ainda enfrenta dificuldades para conseguir contato com certas editoras, que não lhe retornam as mensagens. O que é de se espantar, porque seu blog tem cerca de 200 acessos diários, funcionando como uma boa vitrine de lançamentos.

Esse enorme volume de parcerias e promoções entre editoras e blogs não tem somente um lado bom, como já era de se esperar. Nota-se que o foco inicial de muitos dos blogs literários mudou com o passar do tempo e com a constatação de que poderia se converter em funcionais ferramentas de divulgação. Assim, vários dos que ainda postam resenhas já demonstraram um cuidado menor para com elas do que com a organização de sorteios e promoções. O que deveria ser um “conteúdo a mais” acabou se transformando, em muitos casos, no carro chefe. Alguns diriam que houve um rebaixamento, uma inversão da lógica que seria inerente aos blogs literários. O fato é: em sua maioria maciça, o público aprova.

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