segunda-feira, 5 de julho de 2010

Análise da Campanha do Ministério da Educação e Cultura por Erli dos Santos

“Fez funcionar o espaço escolar como uma máquina de ensinar, mas também de vigiar, de hierarquizar, de recompensar.” (Foucault, Vigiar e Punir, pág. 134)



Para Foucault, a disciplina condiciona a vida moderna. A vida é conduzida, através das regras disciplinares, que operam na vida de todos, os sujeitos ao longo da vida toda. A propaganda do MEC situa-se nos moldes do regime disciplinar descrito por Foucault, como veremos.

Segundo visão foucaultiana, as diferentes instituições que compõem o Estado (escola, hospital, exército, asilos dentre outras) representam os interesses da instituição maior, atuando para que todos os seus setores e componentes ajam em sintonia com o regime. As instituições funcionam para manter tudo muito estruturado, a partir da obediência a suas regras. A sociedade é, portanto, estruturada como uma máquina. Os corpos são engrenagens, o que não funciona bem deve ser consertado, ajustado ou eliminado. A ideia é fazer a sociedade uma máquina perfeita, constituída de corpos adaptados a ela, corpos que funcionem harmonicamente para o pleno funcionamento do todo.

Percebemos claramente a ideia de utilidade/funcionalidade presente na propaganda: utilidade do livro didático, utilidade do sujeito-usuário (aluno) que deverá cuidar do livro (material físico) para que outros usuários possam fazer o mesmo no ano seguinte, utilidade da escola que deverá tomar os devidos cuidados para que tudo transcorra bem.

“Determinando lugares individuais, tornou possível o controle de cada um e o trabalho simultâneo de todos. (...) Fez também funcionar o espaço escolar como uma máquina de ensinar, mas também de vigiar, de hierarquizar, de recompensar.” ( FOUCAULT)

É clara aqui uma visão positivista acerca do uso e da utilidade do livro como matéria física.A harmonia está na relação de cuidado que o aluno(leitor) deve ter com o livro, a fim de que o objeto dure e seja utilizado por outros alunos – a harmonia está no cumprimento efetivo desse papel. A propaganda se restringe a abordar o livro como objeto - o livro concretude, o livro funcional – que vai cumprir uma função física: “passar de mão em mão” e promover acessibilidade ao público carente da escola pública. A disciplina é importante, então muito importante: cuidar do livro, encapando-o, por exemplo, a fim de que ele se mantenha intacto para que outros possam utilizá-lo e fazer o mesmo. A visão de livro como texto a ser lido, matéria física que só se realiza plenamente com a leitura, com a atribuição de significado/representação por parte do leitor, é omitida.

A propaganda aqui comentada está de acordo com as ideias positivistas da “sociedade disciplinar”, porque promove a disseminação da ideia de que o segmento social (corpo/estudante) deve agir da forma adequada (a indicada), para que a máquina (Estado) funcione em sua plenitude. A regra deve ser obedecida e, assim, a harmonia do funcionamento do todo será obtida. O aluno é, portanto, mais um corpo dessa engrenagem, deve funcionar bem, para não comprometer a instituição e, consequentemente, o Estado.

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