sábado, 12 de dezembro de 2009
Proibido para os Baixinhos – Por Sara Faro
A imagem de uma criança no senso comum social nos indica inocência, pureza, verdade, brincadeira, sonhos e muitos outros sentimentos que remetem a ideia de ingenuidade presente na espécie humana. Há um tempo atrás os programas de público infantil, como castelo rá tim bum, chaves e cocoricó faziam sucesso entres os pequenos, o natural era ver seu filho ou filha brincando com bonecos e jogos de tabuleiro, que normalmente eram direcionados para desenvolver alguma faculdade mental, mesmo com toda a mediação tecnológica que já ocorria( tv, videogames, rádio, cinema). Porém, contemporâneo à nós, nos deparamos com meninas que se preocupam mais em vestir a si mesmas do que suas bonecas, é certo que a juventude hoje em dia tem um comportamento bem diferente do esperado pela sociedade, mas sabemos que este comportamento foi sendo inserido de forma sutil no universo infantil e boa parte foi através dos meios de comunicação tradicionais.
O exemplo mais evidente do espetáculo produzido pela mídia em torno da imagem da criança é o da apresentadora da rede de TV Sbt: Maísa. Com pouco mais de 7 anos ela é apresentadora unânime dos programas infantis do Sbt, rendendo até um “Caso Maisa” às outras emissoras, no momento em que, num quadro do “Programa Silvio Santos”, numa brincadeira, a pequena apresentadora chora, grita e chama por seus pais(Pausa para opnião pessoal: Ela chorou ao ver um menino com uma maquiagem gótica, e acredito que ninguém imaginava que ela teria tal reação - ).
Na época isso teve uma repercussão enorme na Mídia, muitos blogs, fóruns, tweets, dentre outros meios de postagens na rede, foram feitos nesse embate de quem merecia culpa nessa exposição fora de controle. Na maioria das opniões a culpa é dos pais, pois segundo o “senso comum”, eles que sabem o que é melhor para seus filhos, porém será que eles sabiam desse quadro ou também, será que do mesmo jeito que a menina foi barrada para sair do palco eles não o foram para entrar? Esta incógnita ficará indissolúvel, pois todo espetáculo precisa ser “alimentado” para que possa permanecer-se como tal(Como escutei hoje: “A gente precisa ser visto para ser lembrado!”). Portanto a Maísa continua sendo apresentadora, seus pais continuam recebendo seu salário-poupança, as crianças continuam assistindo ao Sbt, e Silvio Santos continua ganhando dinheiro às custas de nós, telespectadores, que como fazemos com a política, esquecemos o que nos incomoda para não termos o trabalho de pensar .
Além deste tipo de exposição, que mostra como a visão de mundo dos dias atuais não comporta mais a ingenuidade presente no pensamento de uma criança(Maisa teve medo, da mesma maneira que seria ter-se medo de escuro ou de palhaço, né?! Não tem explicação racional para isso), também me parece que o pudor foi esquecido, essa vergonha que separa a inocência da malícia perdeu o sentido dentro do modelo mercadológico atual. Está cada vez mais distante a época na qual crianças, nos seus 8 ou 9 anos, colocavam vestidinhos feitos por suas avós, bordados com rendas. Por vontade própria elas querem aderir à forma adulta de se vestir, de se portar, de falar e de andar, mas até que ponto esse pensamento já não vem sendo estimulado neles? Fiquei abismada com o merchandising feito pela marca de roupas infantis “Lilica Ripilica”, o qual utiliza em seu conjunto o slogan “Use e se Lambuse”, e a imagem de uma criança esticada num divã com um “Hot-Dog” na mão, lambusada de molho na boca, ou seja, minha memória fez na mesma hora uma alusão a Lolita. Por favor, me respondam, em qual mundo a imagem de uma criança deveria ser associada a da Lolita(entenda aqui como uma menina por volta dos 9 anos sendo notada sexualmente)? Esse tipo de propaganda afeta toda uma ética criada para proteger nossas crianças. As “armas” utilizadas pela mídia para atingir seu público chegou a seu limite, na minha opnião.
O filme A pequena Miss Sunshine aborda justamente este contraponto, colocando no papel principal a pequena Oliver, que está fora dos padrões sociais de beleza, mas ainda é uma criança, que tem o sonho de participar de um concurso de talentos, ela é ingênua e pura, no maior grau da palavra. Suas “concorrentes” passam por processos de embelezamento para se tornarem sensuais, mas elas são crianças apenas, e neste mundo no qual tudo vira espetáculo, especulam até na imagem delas. Este filme trata desse assunto também de uma forma espetacular, como Debord relatou, ao se produzir uma crítica ao espetáculo, automaticamente o espetáculo é alimentado, pois o contra espetáculo utiliza os mesmos meios para se divulgar e existir. O filme produziu com louvor , de forma espetacular( em todos os sentidos da palavra), uma crítica a essa forma de posicionamento da criança nos veículos de mediação de massa como cinema, tv e outdoor.
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