segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
Lombardi , um espetáculo de voz. - Por Enio Graeff
O recente falecimento de Luiz Lombardi Neto, natural do estado de São Paulo gerou grande repercussão em todos os meios de comunicação. O locutor tornara-se famoso após ter trabalhado por mais de 40 anos junto do empresário e apresentador de TV, Sílvio Santos. Anteriormente, já havia trabalhado também como locutor na TV Paulista, afiliada da Rede Globo de Televisão no estado. Foi lá que conheceu Sílvio Santos, o homem que o tornou a voz mais conhecida e misteriosa do Brasil.
Todo esse suspense e curiosidade que cercava a voz de Lombardi devem-se à decisão da emissora, SBT (antiga TVS), em ocultar a imagem do locutor que marcava as chamadas das atrações nos programas de Sílvio Santos e também os anúncios comerciais. Além disso, também estabelecia uma relação muito dinâmica e descontraída nos programas do empresário. O locutor era figura presente em todos os domingos e as atrações mais vistas da emissora no Brasil, tinham sua voz registrada.
O vídeo que segue esta análise é uma homenagem do Jornal do SBT, escrita pelo jornalista Renato Dilago, após a morte de Luiz Lombardi Neto. Eis aqui um trecho do escrito ao qual serão associadas algumas idéias sobre teorias da comunicação. “O timbre forte e inconfundível, aveludado, doce, grave, tão claro e alegre a ponto de fazer o dinheiro parecer mais valioso. O real ainda mais real. A bicicleta ainda mais bonita. O tênis ainda mais desejado. Afinal era a voz dos prêmios, da esperança. Esse personagem sem rosto, nem figurino surge como uma força que vem do alto, é quase a consciência do apresentador.”
Visto o que foi ressaltado do texto, é imprescindível não citar e relacioná-lo com as idéias múltiplas expostas em forma de teses na obra de Guy Debord sobre a sociedade do espetáculo. Em especial, a tese de número 4, que diz: “O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediada por imagens.” Com base nesta afirmação e fazendo alusão ao trecho do texto do jornalista, é possível explicar essa interação da espetacularização com o que gira em torno da voz do Lombardi da seguinte forma: a voz do locutor possui tanta importância em decorrência da relação que a sociedade estabelece para si, através de marcos característicos, referências sociais, ou seja, das imagens. É a partir dessas considerações que, segundo Renato Dilago, Lombardi conseguia fazer o dinheiro parecer mais valioso, o real ainda mais real, a bicicleta ainda mais bonita e o tênis ainda mais desejado.
Porém, o espetáculo não se constrói somente através dessa maneira. Neal Gabler nos ajuda a pensar em sua obra, Vida o filme, sobre o papel dos meios de comunicação nesta história. Por exemplo, a escolha da emissora em não exibir o rosto do locutor é um tipo de artifício para exprimir a idéia de suspense e mistério. Esse artifício é chamado por Glabler de elemento cênico.
Conforme os paralelos traçados, podemos agora assistir ao vídeo do telejornal:
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