domingo, 21 de novembro de 2010

Análise da reportagem "Onde fica a privacidade?" por Liana Vasconcellos

ONDE FICA A privacidade?

Adriana Barsotti

Vinte e um anos depois de ter escrito “A sociedade do espetáculo” (Contraponto), o filósofo francês Guy Debord afirmou, em 1988, comentando sua própria obra: “Posso me gabar de ser um raro exemplo contemporâneo de alguém que escreveu sem ser imediatamente desmentido pelos acontecimentos”. Se estivesse vivo, teria mais motivos ainda para se gabar. O livro, escrito numa época em que não havia YouTube, blogs, fotologs e redes sociais, afirmava que o espetáculo era a principal produção de uma sociedade que privilegiava a visão. O que diria ele agora das redes sociais com georreferenciamento, o mais recente fenômeno digital, onde todos não apenas querem ser vistos, mas localizáveis? Com algumas diferenças, elas funcionam assim: ao chegar a determinado local, o usuário, através de seu celular, recebe uma lista de restaurantes, supermercados, parques, academias, farmácias, shoppings ou qualquer outro tipo de estabelecimento perto de onde se encontra. A partir daí, ele pode encontrar na lista o local onde está e fazer um check-in. Se ele ainda não estiver cadastrado, ele mesmo pode fazê-lo. Ao fazer seu check-in, ele pode optar comunicá-lo aos seus amigos da rede social móvel que está utilizando e também à sua rede no Facebook e no Twitter. Além de revelar sua localização, ainda pode acrescentar alguma mensagem do tipo: “afogando as mágoas num milk-shake de chocolate”. Também pode não comunicar a ninguém, opção que parece bem menos atraente aos usuários.

Com o limite cada vez mais frágil entre o público e o privado e as possibilidades de superexposição multiplicando-se, o que estaria motivando essa ditadura da intimidade, que agora pode ser literalmente mapeada? Um novo conceito de privacidade estaria surgindo? As redes sociais que usam o GPS trazem várias discussões à tona: o uso mercadológico, pois na Europa e nos EUA muitas já oferecem vantagens a seus usuários, a da falta de segurança — se você está em algum lugar é porque não está em casa — e a da falta de privacidade, foco deste debate.

— A intimidade hoje não é a mesma do século passado. Vivemos numa sociedade
confessional — analisa o psicanalista Chaim Samuel Katz.

Comentários

Adriana Barsotti tem toda razão ao afirmar que a ideologia de Guy Debord está mais do que atual. Estamos vivendo em uma sociedade que privilegia a visão, o exibicionismo e a super exposição do ego.

Na continuação da reportagem, nossa professora Paula Sibília( autora de “ O Show do Eu: a intimidade como espetáculo”) afirma que hoje todos nós somos localizáveis e disponíveis o tempo todo e como é paradoxal que a retórica desses dispositivos midiáticos jogue com a liberdade, pois estamos cada vez mais presos.

Entretando, Vinícius Pereira(diretor do Pan-Media Lab), acredita que o exibicionismo é apenas um dos motivos para o uso das redes sociais e afirma que estas podem ser poderosas fontes de informação: um condutor ao postar as condições do trânsito em uma dessas redes, está enviando informações de interesse público aos outros motoristas e assim por diante.

Vale ressaltar também que não foi só o conceito de privacidade que mudou, o de vigilância também. A sociedade disciplinar descrita por Foucault, onde o vigiar estava diretamente relacionado à punição, em instituições de confinamento como prisões, escolas, fábricas e hospícios, deu lugar a uma sociedade com sistema de recompensa, onde é possível ganhar desconto, vantagens e prêmios e ter seus cinco munitos de fama de maneira fácil e rápida.

O psicanalista Chaim Samuel Katz, autor de “Complexo de Édipo”, afirma que vivemos hoje numa sociedade confessional, onde existe uma multiplicidade de “eus” e onde é possível ter várias identidades dependendo das circunstâncias. A cada segundo milhões de internautas postam nas redes sociais( Facebook, Orkut, Twitter….) onde estão, o que estão fazendo, aonde vão e muitas outras informações pessoais, que põem em risco a questão da segurança. É literalmente uma sociedade confessional, que “confessa”todos os detalhes e ações do seu cotidiano.

Daqui a alguns anos veremos até que ponto essa super exibição e esse espetáculo perene da vida social foi benéfico ou não para nós. Por enquanto, o que nos resta fazer é: postar…postar e…… postar.

Escolhi este texto para o blog porque achei ele muito interessante, além de abordar vários tópicos que vimos em sala de aula. Espero que vocês apreciem!! Se alguém tiver interesse em ler a reportagem completa é só me mandar um e-mail: liana-vasconcelos@uol.com.br.

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