segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Apesar da queda de audiência, a TV ainda é o principal meio de entretenimento do país


RIO - A TV está ameaçada pela internet? Os atuais hábitos de consumo dos telespectadores - ampliados também pelos canais a cabo, DVDs, Blu-ray e games - são os únicos culpados pela gradativa queda de audiência das emissoras abertas? Sim, são muitas as questões que envolvem a televisão no ano em que ela completa 60 anos no Brasil.

Parte do time dos grandes apresentadores da atualidade, Luciano Huck entendeu a importância de manter um diálogo aberto por meio das novas mídias. Conectado, o apresentador faz do "Caldeirão do Huck", exibido pela Globo nas tardes de sábado, sua principal plataforma de comunicação. Mas não deixa de manter uma linha direta com os seus mais de dois milhões de seguidores no Twitter ou de produzir conteúdo exclusivo para o site do programa. Mesmo ciente das transformações passadas pela TV nos últimos anos, Huck não faz previsões alarmistas para o futuro:

- Daqui a 60 anos, teremos outras novas plataformas e a tendência é que haja uma maior convergência entre todas essas mídias. Ferramentas como as redes sociais servem para dialogarmos com o público, mas a TV aberta vai continuar cumprindo o seu papel. Ela ainda é o maior gerador de entretenimento do mundo. E isso independe da plataforma de distribuição. O que vale é o conteúdo.


Com dez anos de Globo, Huck acredita que apesar de toda a interatividade anunciada - com a TV digital, por exemplo - boa parte dos telespectadores ainda vai optar por apenas se jogar no sofá e acompanhar de forma passiva a programação. Como sempre aconteceu.

- A TV aberta ainda seguirá com a missão de entregar um produto bem acabado e relaxar o público - diz Huck, fã incondicional de Silvio Santos e Fausto Silva, citados por ele como os maiores apresentadores de todos os tempos.

Hoje, ao ligar a TV, o telespectador ainda pode se divertir com a presença dos veteranos Silvio Santos e Hebe Camargo, clássicos da programação que souberam se manter relevantes. Mas também há nomes de outras gerações como Pedro Bial, caso exemplar de reinvenção nesta última década. Jornalista com 30 anos de Globo e já apontado como o Chacrinha do novo milênio, o homem das coberturas históricas como correspondente internacional - da Guerra do Golfo à queda do Muro de Berlim -, encontrou um canal de comunicação com as massas no "Big Brother Brasil".

Bial guarda em sua memória afetiva de telespectador imagens do "Repórter Esso", que marcou sua infância. E cita de forma carinhosa figuras fundamentais para a história da TV como Maurício Loureiro Gama, âncora do "Imagens do dia", primeiro telejornal da TV Tupi.

- No começo, ele só comentava as imagens exibidas, sem cortes - recorda Bial, antes de avaliar a sua própria trajetória. - Fui correspondente por oito anos e cheguei a me perguntar para quem estava falando. Mas a TV cumpre o papel de amalgamar e dar liga ao país. Veja o exemplo do "BBB", que é um programa visto por gente de todas as classes. Acho que o reality show inaugurou a cara da TV no século XXI.


E o futuro? Para ele, a internet é um complemento. E não concorrência:

- A web fala com o indivíduo de uma maneira que só ela faz. Mas, para comunicar com as massas, só a TV aberta. Por muito tempo ainda será assim. É algo gratuito, que você liga e tem acesso à informação e ao entretenimento.

Professor da faculdade de Comunicação da UERJ e diretor do Laboratório de Mídias da ESPM-RJ, Vinícius Andrade Pereira levanta uma questão ao falar sobre as possibilidades de consumo da TV.

- Antes, você tinha hora e local para assistir à programação. Isso mudou. Todos os estudos apontam que o grande negócio será o consumo móvel. Mas isso vai implicar numa série de transformações. Há toda uma gramática visual que precisa ser repensada. Talvez a maneira de se filmar a novela, por exemplo, tenha que ser outra para a exibição em um celular - analisa Pereira.

Apesar de todas as novas possibilidades, o modelo estabelecido ainda é o que deverá prevalecer por mais um tempo. O professor afirma que a queda de audiência sofrida pelos canais abertos ainda não pede uma mudança drástica.

- Hoje temos uma diversidade entre as práticas de comunicação e entretenimento. Mas o modelo de negócio da TV ainda é o que dá lucro e sustenta essa máquina. As TVs abertas são como locomotivas que carregam 200 toneladas e andam a 200 quilômetros por hora. Não tem como parar para repensar isso. Até o mercado publicitário está organizado e estabelecido assim: programação, intervalo, programação.


E por falar em lucro, a telenovela, principal produto de exportação da TV brasileira, se renovou ao longo dos anos, mas ainda se mantém como o carro-chefe do veículo. Entre os clássicos que marcaram época está "Beto Rockfeller", exibida pela Tupi em 1968. O folhetim entrou para história ao propor a modernização do gênero, até então dominado pelas tramas clássicas. Em 1970, na Globo, "Irmãos coragem" trouxe o casal 20 Tarcísio Meira e Glória Menezes e foi a primeira novela a parar o Brasil: a audiência superou à da final da Copa do Mundo daquele ano. Dezoito anos mais tarde, chegou a hora de "Vale tudo", de Gilberto Braga, mobilizar o país com a pergunta "quem matou Odete Roitman?".

- A telenovela é a nossa grande indústria cultural - afirma Hermes Frederico, professor de Comunicação da PUC-Rio e coordenador da escola de teatro da Casa das Artes de Laranjeiras.

Doutor em Teledramaturgia pela USP, Mauro Alencar destaca a importância do folhetim:

- Por meio da telenovela, a despeito da diferença latente que constitui cada ser humano, nos sentimos fazendo parte de um todo, pois compartilhamos das emoções comuns à espécie humana.

Fonte: Revista da TV - Jornal O GLOBO

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